Lá mais para o final da semana chegarão notícias, relatos e afins. É que agora não vai dar. Vai mesmo ser impossível. Lá mais para o fim da semana.
Começo a pensar que me enquadrava melhor num desses...
Sabes aquela gaveta, talvez perto do computador, talvez perto da cama, talvez longe de tudo e de todos? Aqui a tens. Aberta. Escancarada.
Lá mais para o final da semana chegarão notícias, relatos e afins. É que agora não vai dar. Vai mesmo ser impossível. Lá mais para o fim da semana.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 13:48 0 remexidelas na gaveta
A brisa soprava do lado do rio, vinda do norte. Era uma brisa suave mas que marcava presença. Quem circulava pelo cais procurava refrescar-se de um dia quente e abafado, outros ainda procuravam, de olhos enfiados em máquinas fotográficas, uma instantânea que, dentro de alguns anos, os fizesse recordar esta noite.
Focos que iluminam locais potencialmente turísticos, caves abertas aos visitantes mais sequiosos e o rio que passava, irredutível, incapaz de se preocupar ou prestar atenção a tudo o que gravita à sua volta.
E a brisa que, teimosamente, persistia em circular impelia-te cada vez mais para junto de mim, transformando uma noite agradável em algo mais do que isso.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 10:27 1 remexidelas na gaveta
É este o resumo. Gente, gente e ainda mais gente. Milhares de pessoas deambulando rua abaixo rua acima à procura de música, animação e bebida. Muita bebida.
Pelas ruas estreitas e frias de Alpedrinha, o calor humano imperava. Caras conhecidas, amigos, caras menos conhecidas e perfeitos desconhecidos, todas as razões eram boas para uma troca de palavras que fazem desta festa algo de extraordinário.
As caras quase indefinidas que conformavam os magotes de gente que por ali circulavam, aparentemente sem destino, acabavam sempre por trazer-nos à memória alguma história, alguma recordação. Há encontros e desencontros que os milhares rapidamente nos levam a esquecer e a beber mais uma ginjinha.
E houve ainda um agradável concerto que, num plano picado, teve como pano de fundo o Palácio do Picadeiro. Magnífica actuação de Tereza Salgueiro em que os sons tradicionais iam ecoando nas pedras centenárias do Chafariz. E os mesmos magotes de gente, na tentativa de assistir ao concerto, de passar ao largo, de passar...
A animação das tasquinhas, a animação de rua, a animação de um jantar que não chegava nunca e a animação provocada por uma luz que não conseguia ser contínua... tudo fez, faz e fará parte dos Chocalhos.
Para o ano lá estaremos novamente, quando o calor começar a querer desaparecer e os pastores de outrora comecem a pensar em grandes viagens de grandes rebanhos. Lá estaremos para que os nossos risos ecoem no granito de Alpedrinha, juntando-se ao murmulho que, lá longe, recorda o marulho das ondas, de ondas de gente animada, feliz e errante.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 19:46 1 remexidelas na gaveta
Fica para breve um relato sobre o último fim-de-semana para lá da Gardunha, numa festa envolta num mar de gente que, rua abaixo, rua acima, procura música e tasquinhas com uma avidez inositada.
Para breve. Prometo.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 13:07 0 remexidelas na gaveta
É noite. Uma brisa corre ao longo do Douro, à medida que a noite vai avançando. A ponte da Arrábida como pano de fundo. Pescadores solitários, escuros e silenciosos vão lançando uma e outra vez o anzol na água imóvel do rio; são homens que esperam pacientemente um peixe que comunique, que quebre a pacatez que os envolve.
Parecem alheados da realidade, dos carros que passam incessantemente e dos risos que ecoam das esplanadas. É a calma e a letargia que contrasta com os sons de conversas de esplanada, intercortadas pelo tinir de copos e por gargalhadas que esvoaçam de algumas mesas, da nossa mesa de café.
São pescadores de sonhos perdidos. Acredito que o sejam. São pescadores que procuram agarrar com o anzol a vida vazia que os preenche. Lançam a cana como quem procura alcançar uma oportunidade que se esvaiu e, repetidamente, puxam a linha para começar de novo e trilhar um outro caminho.
Num instante, uma conversa faz-se desviar o olhar e fixar-me, de novo, na mesa de café onde é noite e as gargalhadas são constantes. Olho de soslaio um pescador que arruma o material e regressa a casa onde, talvez, tenha uma gaveta na qual guarda os sonhos por cumprir.
É noite. Uma brisa corria ao longo do Douro, à medida que a noite foi avançando. A ponte da Arrábida como pano de fundo...
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 02:47 3 remexidelas na gaveta
Um canto de lua em Vila Nova de Gaia, numa viagem rápida ao norte. Um fim-de-semana de viagem que ainda terá passagem pelo minho mais profundo, antes do início do trabalho que se aproxima inexoravelmente.
Um pequeno passeio ao sabor do vento que varria as praias e o rebentar das ondas que desperta o desejo de entrar mar adento e ir y venir, ir y venir...
No fim da noite, depois do jantar, um cigarro pensativo na varanda banhada por uma lua enorme e redonda que ilumina todos os cantos mais obscuros. Um céu estrelado claro como as águas translúcidas da praia que vão e vêm, vão e vêm.
É uma natureza redonda que flui em mim, mesmo fora da província. Um canto de lua numa noite fresca que anuncia o fim do verão.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 22:28 0 remexidelas na gaveta
De regresso com óculos e chaves e tudo aquilo que acabou por ficar perdido quando as férias urgiam. Agora, depois de um agosto quente, calmo e tranquilo, regressam os hábitos, o despertador e a quilometragem ilimitada.
Setembro marca o regresso ao trabalho, aos horários e... ao computador. Hoje regressa também a escrita a este estaminé porque, enfim, as férias acabaram e os leitores (suponho) vão também eles regressando paulatinamente ao trabalho.
Votos de bom trabalho para este regresso de férias. É hora de guardar a toalha de praia e escolher as melhores fotografias da praia para juntar ao álbum.
É hora de tirar o pó aos papéis congelados na secretária aquecida pelo verão que se queimou como um fósforo, num ápice, e morreu, abandonado num cinzeiro, cheio de olhares de pena e vontade de queimar outro apenas para ver a chama viva, quente e alegre do início da sua combustão.
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 18:38 0 remexidelas na gaveta