segunda-feira, 31 de maio de 2010

o calor

Este fim-de-semana o calor apanhou-me de viagem e não mais me largou. Mas não era uma viagem daquelas de passeio ou de devaneio ou de divertimento. Era daquelas viagens que têm mesmo de se fazer e que, só por isso, são uma estopada tremenda. Isso e a A24.

O calor chegou. A afirmação parece-me agora irrefutável, indesmentível, indestrutível (até à próxima invernia, claro!). Isto de ter apenas duas estações no ano é um fado que as pessoas da Covilhã entendem perfeitamente, simplesmente porque sempre foi assim. Acabado o inverno, chegou, e em força, o calor que nos faz peso em cima como se tivesse de matar todas as saudades nossas de uma só vez

Espero agora uma praia que me refresque durante esta semana. Quero sentir a areia quente debaixo dos pés e que a água fria do mar tente derrubar-me, depois acariciar-me e depois novamente derrubar-me... quero um dia na praia longe de carros, alcatrão e televisão e internet e tudo. Quero ter tempo para NÓS.

Vamos?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

ricardo

Vejo-te vir, ao longe... reconheço-te primeiro algumas feições e só depois te reconheço. Viajo numa máquina do tempo só minha, recuo bem mais de 15 anos até te reencontrar em brincadeiras de adolescentes. Eras diferente; era diferente. A simplicidade dos dias comandava a nossa vida e, especialmente no verão, a responsabilidade não passava de uma palavra desconexa e sem sentido que podíamos encontrar apenas no dicionário e nas vidas dos outros.

Vejo-te vir em direcção a mim, numa passada cambaleante que não dá aso a equívocos, que não permite más interpretações ou entendimentos dúbios. Viajo no tempo até quando te via descer a rua, ziguezagueando também... por vezes também cambaleavas, mas quando finalmente a bicicleta deixou de ter segredos para ti, também tu deixaste de ziguezaguear e de cambalear... até agora...

Vejo-te perto de mim, a voz atrapalhada pelo álcool e pelo que te resta de sobriedade... falas de um passado nosso como se de uma outra vida se tratasse, como se nós não fôssemos nós há 15 anos, brincando com bolas de futebol e bicicletas pelas ruas íngremes da Biquinha.

Ouço-te as frases desconexas, a gíria covilhanense recheada de palavras que já não ouvia há muito muito tempo. Ouço-te e noto como ziguezagueias também nas conversas que tens, no olhar que se perde longe, lá longe onde o verde encontra o azul a onde há 15 anos a vida era o que quiséssemos fazer dela.

A vida foi-te madrasta. Mas hoje, 15 anos depois, ainda pode ser uma linha direita, ainda pode ser o que quiseres fazer dela... quero reencontrar-te e saber que te posso ver e te posso ouvir como antes, como quando rias ao descer numa bicicleta que quase não travava.

Outrora era possível parar a bicicleta; e hoje?