quinta-feira, 1 de agosto de 2013

1M (*)

1 de Março, o primeiro dia do mês começa  com o cheiro a óleo dos carris numa estação da CP; ruído de vozes; malas que deslizam sobre o cimento e um ou outro comboio esporádico que circula pela linha. O cheiro a café distrai-me, chama-me à realidade e permite-me uma leitura rápida pelas parangonas dos jornais.

Corpos que se acumulam na plataforma, na expectativa do comboio que chega; o suburbano apinhado avança ao ritmo imposto pelo maquinista... o embalo da viagem sobre os carris transporta-me para outras realidades; recordo outros destinos, outras paisagens, outros comboios. Conversas cruzadas, opiniões díspares e comentários absurdos; árvores que aparecem para logo depois desaparecerem e a praia que se mostra em todo o seu esplendor, banhada por um sol que andava escondido há algum tempo.

Regresso ao comboio. Esqueço a praia quando uma voz enlatada tenta seduzir os passageiros com uma nova estação. Março. Comboio apinhado onde, em cada estação, mais pessoas se agrupam. Rostos perdidos em paisagens longínquas, músicas que ecoam através de auriculares e conversas ocasionais. Novo aperto, nova estação e nova remessa de gente que se compacta dentro da carruagem; novo arranque, em busca de outro destino, de outra gente e de outras memórias.

Eu próprio procuro as minhas... e penso que hoje não é jueves.  



(*) Escrito inicialmente a 1 de Março de 2013, algures entre Vila Nova de Gaia e Aveiro, num suburbano matinal.