terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Água Morrente


Meus olhos apagados,
vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
carir, quase morrer...
Meus olhos apagados,
e cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
como a água morrente.

Camilo Pessanha


Olho a claridade que prepassa pela janela. Vejo a cortina de águia que escorre de um céu escuro como o breu e uma letargia invade-me, toma conta dos meus pensamentos e do meu corpo.

Apetece-me fechar os olhos com força e esquecer esta monotonia de "água morrente", ultrapassar esta claridade cinzenta que as nuvens fazem questão de nos trazer neste inverno. Todos os ruídos são invernosos, os carros que passam lá longe no alcatrão encharcado, os passos miudinhos de pessoas apressadas e a quietude que nos envove, continuamente...

fora chove. Uma chuva miudinha consome-me as esperanças. E eu aguardo, pacientemente, que amanhã o dia amanheça com a força e a vitalidade dos raios de sol numa manhã alegre de inverno.

Até lá, vou ficar - como diz o Rui Veloso - deitado a ouvir a chuva a cair.