A vida mostra-nos o frágil que somos, talvez até mais do que uma vez por dia. Olhamos para trás e suspiramos. Respiramos fundo e pensamos no que podia ter acontecido.
Hoje o dia começou com uma dessas situações. A mistura explosiva invernal fazia-se sentir no alcatrão imóvel e traiçoeiro que me conduziu. Recta, curva, lomba, recta, curva e zás, lá estava ele: veículo e condutora, fora da estrada e a salvo de qualquer mazela.
Dou a volta, encosto. Queremos assegurar-nos (eu e os meus companheiros de viagem) de que tudo está bem. A condutora acidentada reconhece-me. No meio do nervosismo, trata-me pelo nome e isso parece reconfortá-la um pouco mais.
Trocámos conversas naturalmente desconexas, com nervosismo e telefonemas à mistura. Trocámos contactos... arrancámos em direcção ao nosso destino analisando cada milímetro do alcatrão que nos acompanhava com desconfiança.
Foi um reencontro curto e em circunstâncias pouco ortodoxas. Mas talvez por isso mesmo, hoje, eu olho para trás e suspiro. Respiro fundo e penso no que podia ter acontecido.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
reencontro
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 09:39 2 remexidelas na gaveta
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
lá fora
Lá fora a chuva cai. Incessantemente. Ouço-a cair de forma certa e repetitiva. Ouço-a gotejar aqui e além. À minha volta acumulam-se papéis e trabalho, vidas e histórias que conheço ou, em alternativa, vou conhecendo.
Lá fora ouço ruídos de festa, de euforia alcoólica que se intervalam com a chuva que, de mansinho, inunda a minha cabeça.
Lá fora jovens estudantes celebram um rito de passagem, aquele rito que, em alguns momentos da nossa vida, já nos pareceu a coisa mais importante do mundo e algo de que não poderíamos abdicar nunca.
Lá fora a minha vida já desfilou. Outros há que ainda não sabem que tudo muda e que as recordações serão os únicos sorrisos que, em dias como hoje, poderão acompanhar-nos.
Lá fora capas negras ondulam ao sabor dos passos, encharcadas com o peso da água que vão absorvendo. Passos apressados abrem caminho para um evento onde os relógios não existem e o tempo pára.
Lá fora há alegria e animação, desejo de vencer e de não ser vencido, gritos, berros e urras e sorrisos e risos e danças e bailes e coreografias e o sr. Manuel do bar e a mula...
Lá fora há, seguramente, alguém que no futuro esteja cá dentro a pensar como está tudo lá fora. com vista para os tais papéis, claro está...
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 15:17 2 remexidelas na gaveta