sábado, 17 de junho de 2006

tudo serve para ocupar o cérebro


À saída de casa, as acções habituais... o rodar a chave na ignição até o motor roncar; aquele ruído forte e metálico, quente nas manhãs frias e mais quente ainda quando o sol começou a fazer-me companhia, com a chegada da hora de verão.

Arranco. A rádio faz-me companhia. O António Macedo leva-me e acompanha-me até à Guarda. Contudo, primeiro, 4500 metros até à placa azul com letras brancas que gritam A23; continuo com o António Macedo, subo ao trono dos Reis da Rádio, sempre cheios de memórias de outros tempos e rio sozinho com os da Palmilha Dentada.

Reduzo a velocidade. Entro na noite e depois vejo erguer-se lá no alto a tal cidade que é, simultaneamente, Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. Procuro agora outra estação, procuro os Cromos da T.S.F. e, 46 km depois encontro outro asfalto. Deixo a Guarda atrás de mim e rumo a este.

A paisagem parece querer alterar-se. Quase não vejo árvores; foram substituídas pelo granito. A estrada serpenteia, descidas, subidas, descidas, subida final. Após 14 km saio da A25 e encontro a N324.

Longas rectas e poucas curvas compõem 16 km de Antena 3. São horas de Há Vida em Markl, são horas de olhar o telemóvel e esperar que toque.

Ligo o sinal e, 90º depois, nova estrada. N340 e, às vezes, um ou outro CD ocupa o lugar das ondas da rádio. Desço até ao rio Côa, subo do Côa e, 9500 metros depois, lá está ela. Cruzo-me com a placa branca, imaculada, fria como a temperatura lá fora: Almeida.

O telefone toca. "Amo-te." - ouço através do auricular. "Estou a chegar. Correu tudo bem." "Amo-te muito, princesa; olha, já cheguei, acabei de estacionar."

O edifício vazio ergue-se, no exterior das muralhas. o motor pára, 90 km depois e o riso das crianças dos outros instala-se, comodamente, nos meus ouvidos.

"Sr. Rogério, um café, por favor!"

Tudo isto é verdade. Tudo foi contabilizado, sentido e vivido. Quem viaja sozinho sabe como é: tudo serve para ocupar o cérebro.

Até sempre, Almeida. Até sempre.

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