Depois de tanto tempo afastado destas lides, com a gaveta fechada e a acumular pó, decido-me abri-la com todo o cuidado que as coisas fechadas durante muito tempo merecem. Depois de a encontrar, fechada, imóvel, triste, hesito. Não sei que hei-de dizer-lhe ou contar-lhe.
Que mentiras te direi? Que histórias mirabolantes terei de criar para que não leves a mal este meu alheamento do mundo da escrita? Que desculpa evitará olhares cruéis, silêncios incomodativos, ... A minha ausência é indesculpável, bem sei. Mas foram tempos complicados, tempos difíceis. Foram tempos sem tempo.
Chego-me à gaveta, tento não encará-la de frente. Vejo o pó que se foi acumulando, quando eu deixei de a abrir e de permitir que o ar entrasse a golfadas dentro dela.
Decido-me. Abro-a. A minha mão fá-la deslizar, como antes, como hoje. O cheiro quente e abafado inunda-me...
Respiro-te. Faz-me bem voltar ao teu encontro, estar contigo e remexer nos teus papéis que são pedaços da minha vida. Num instante imenso esquecemos tudo e voltamos a ser o que éramos, voltas a ser uma gaveta cheia de nada. Aberta. Escancarada.
E eu volto a poder divagar por aqui, volto a poder encarar-te de frente sem medo e sem receios porque voltei, porque escrever me faz sentir livre de pesos e amarras, porque sorrio, imaginando uma série de gavetas que, apesar de fechadas, estão sempre a tempo de ser abertas e de deixar expostos todos os segredos que contêm.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
um regresso
devaneio retirado da gaveta por André quando o relógio marcava 18:46
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário